O tempo em que um País parava!
[Acho que todos sentimos o Salvador. Todos já amámos por dois.]
Todos os anos, nesse dia, tínhamos que nos despachar mais cedo. O telejornal dava mais cedo e o país quase parava para assistir à Eurovisão.
Poltronas afinadas, uns aperitivos e muita fé. Era sempre um serão bem passado. Cheio de gargalhadas e esperança.
Chegava sempre ao final, ou quase sempre, e ficava um gostinho amargo na boca. Um desalento orgulhoso no olhar. A nossa canção era a melhor [nem sempre]. E nunca ganhava.
Há alguns anos que não assistia á Eurovisão. A "coisa" tinha perdido a essência. E a esperança era tão diminuta já, que nada me fazia perder mais tempo com o acontecimento.
Agora ao invés de dois canais, tenho mais de cem. E mais de 30 anos de sofrimento, sem trazer o caneco, ninguém aguenta, tantos sonhos de infância desfeitos. :)
Este ano vi. Porque gosto do miúdo, porque o Porto não foi campeão e fiquei em casa, porque tinha, ainda que por acidente, visto a semi final e fiquei impressionada. Vi e ainda bem.
Comentei com a minha mãe:
- O Salvador tem aquela cena que o Caetano também tem.
- Aquela cena? - retorquiu. Ahhhhh. Sei.
- Aquela sensibilidade de quem canta a sentir. Ou vice versa.
[Acho que todos sentimos o Salvador. Todos já amámos por dois.]